O GINÁSIO MUNICIPAL DOS PALMARES NO CORAÇÃO DE UM ESTUDANTE

Conheci o Ginásio Municipal Agamenon Magalhães, de Palmares (PE),em 1959, aos 8 anos de idade, no segundo ano do curso primário; em 1967, aos 16 anos de idade, concluí nessa escola o Curso Ginasial.
Costumo dizer, em encontros com amigos, estudantes e professores, que o Ginásio Municipal dos Palmares foi a única escola da minha vida. Verdade : concluído o ginasial, estudei, no ano seguinte, no então Colégio Costa Azevedo, durante 6 meses, e deixei o Curso Técnico de Contabilidade mal iniciado porque não tinha condições de pagar as mensalidades. O abandono dos números, da ciência contábil, me fez um bem danado : eu já tinha descoberto que as palavras eram mais mágicas do que os números, no último ano do Ginásio Municipal, e mergulhei de corpo e alma no rio da poesia delas em Palmares e logo depois em São Paulo.
Não sou saudosista, não suspiro pelo passado nem me alimento como um ruminante dos seus vidros moidos. Mas eu estou vivo com a minha memória, tenho condição de escrever e sei que nos meus escritos - bem ou mal - "prolongo o tempo do esquecimento", como afirmou Hermilo Borba Filho sobre os seus livros de ficção (quase todos vivenciados em Palmares).
Me lembro do Ginásio Municipal dos Palmares com o meu coração de menino e de adolescente : da professora do primário, Eliete Guerra, dos diretores e professores do curso ginasial - Brivaldo Leão, Laércio Duá Pacheco, Douglas Marques, Amaro Matias, Lúcia, Jarlan, Joab, Maria Francisca, Edson Matos, Elias Sabino, Aristeu Tavares, José da Justa. E me lembro dos estudantes das turmas desse tempo ginasiano, alguns mais próximos outros à distância (como a maioria feminina, que eu era tímido e arredio): Everaldo, Valdir, Paulo de Joaquim Nabuco, Laudenor Berto, Antonio Maromba, os irmãos Juarez, Jarbas e Jorge Veloso, "Bala" Agrelli, Érico, Sóstenes, Antonio Sérgio, Eniel Sabino, a minha irmã Maura, Iolita, Gessy, Vasty, Eva, Eliane, Elienai, Célia, Maria de Xexéu e Hilda (minha primeira namorada, uma inesquecível história à parte).
Me mantive o quanto pude, mesmo sem vida de estudante, bem próximo do Ginásio Municipal dos Palmares. Voltei a ele em alguns escritos (contos inéditos), voltei todos os dias, ainda vivendo com os meus pais e irmãos na Praça da Luz, voltei com a infância e adolescência dos meus filhos José Terra e João Guarani, que iniciaram os seus estudos no Ginásio Municipal (já então rebatizado como "Escola Fernando Augusto Pinto Ribeiro"); e voltei a conviver com ele, durante 12 anos, quando presidi a Fundação Hermilo Borba Filho e realizamos algumas atividades culturais com estudantes palmarenses.

O Ginásio Municipal dos Palmares ressurge para mim, ainda mais vivo, agora que é só escombros, destruído pelas águas revoltas do seu Rio Una na enchente de junho que transformou a cidade em um "pesadelo fluvial".
E este não é tempo de choro nem de vela.
Palmares precisa ser reconstruída com o esforço e o trabalho sem tamanho dos que nela vivem hoje e com a colaboração e solidariedade dos seus filhos e amigos que vivem em outros lugares e podem participar também da sua histórica reconstrução.
Todos os dias renascemos, sabem os que amam a vida. O que Palmares construiu é indestrutível. O Ginásio Municipal dos Palmares (é esta a sua identidade nos corações de todos os seus estudantes) voltará a irradiar a sua luz no dia-a-dia do processo educacional palmarense. E a iluminar o futuro, a "cultura e a grandeza" da Terra dos Poetas. (JUAREIZ CORREYA)

Comentários

  1. Grande poeta, ou melhor, inesquecível Juarez Correia, palmarense que nos causa orgulho. Nas partes de cá a cultura, nas mãos de mecenários afunda a cada dia, exemplo é a fundação casa da cultura hermilo borba filho, a qual administrasses com tanto brilho e maestreza. Resta-nos o lamento e a angústia pela certeza que dias melhores não virão...

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  2. Juhareiz Correya, que PRAZER ler seus escritos que 'prolongam o tempo do esquecimento' espalhando/espelhando fé e confiança na condição humana. Vida longa ao poeta. De Wera.

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