PALMARES, DEZEMBRO DE 1979
Circulamos pelo centro da cidade - eu, Solange Correia e José Terra, nosso filho, que completaria um ano... -, véspera da festa do dia 8 da padroeira Nossa Senhora da Conceição, para a alegria do menino com os atrativos da festa de rua e do parque de diversões, localizado entre o pátio da Matriz e a Rodoviária Municipal. Solange estava com 7 meses de gravidez do nosso segundo filho. Entre as 20 e 21 horas, voltamos para o quitinete onde morávamos, na Rua do Limão, do Alto do Lenhador, deixei os três acomodados e fui para a casa dos meus pais, na Praça da Luz, onde deveria me encontrar com Jamilton, meu irmão, para concluirmos a montagem de uma publicação especial sobre o aniversário do Lions Clube de Palmares, a pedido do seu presidente Paulo Rogério Melo.
Enquanto aguardava Jamilton, que estava na casa da noiva, no Bairro Modelo, perto da ponte de Japarandubas, coloquei o material da publicação na mesa da pequena sala de jantar, para organizar os textos e ilustrações, aprovar com Jamilton a arte-final e apresentar, na semana seguinte, o projeto de publicação ao presidente do Lions Clube.
De repente, alguém chamou, no portão da entrada da casa, de forma alarmante, pelo meu pai, que estava com a minha mãe no quarto da frente. Ele saiu rápido e só ouvi o comerciante, um conhecido da Rua da Aurora, dizer - "atiraram em Jamilton".
Meu pai quis logo saber onde ele estava, e ouvi o comerciante informar :
- No posto de Ivon.
Meu pai nem abotoou a camisa e, sem falar com a minha mãe, saiu correndo na direção do "posto de Ivon", que ficava a alguns metros da Praça da Luz, no início da Rua da Aurora. Minha mãe pediu que eu fosse ajudar meu pai, mas eu já estava na calçada da casa e corri na direção do posto de Ivon. Quando alcancei meu pai, ele estava alterado exigindo e quase agredindo o vigia do posto para que dissesse o que tinha acontecido com Jamilton. O vigia, meio assustado, disse :
- A polícia levou.
Chamei o meu pai e disse logo que a gente deveria procurar Jamilton no Hospital Regional, para onde poderia ter sido levado pela polícia. Um conhecido parou o seu carro à nossa frente e disse que nos levaria ao Hospital Regional, onde Jamilton não estava e seguimos logo na direção do Hospital Santa Rosa e do Hospital Menino de Jesus.
Antes de chegar ao Hospital Santa Rosa avistamos a kombi da polícia estacionada à entrada. Meu pai foi reconhecido por um policial civil, que lhe informou logo qual era a situação : Jamilton tinha sido ferido, à bala, em um pé, e estava sendo medicado. Meu pai entrou logo à procura do meu irmão. Ao tentar segui-lo, outro policial civil, que eu não conhecia também, sequer de vista, estendeu um braço, me impedindo :
- Você é Juarez ?
Respondi que sim e ele me pediu para acompanhá-lo até a kombi da polícia ali estacionada. A porta de trás da kombi foi aberta e eu entrei na pequena "cela", onde fiquei frente a frente com outro policial civil, que vivia e trabalhava em Palmares. Ele, forçando um ar de riso, me falou :
- Tudo bem, Juarez ?
Não respondi e seguimos em silêncio, como em um túmulo, até a delegacia da cidade. Eu estava sendo preso e não sabia qual era o motivo daquela prisão.
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Texto do ebook inédito Melhor é Viver
(Pequenas Histórias Reais), de Juareiz Correya
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