PALMARES, DEZEMBRO DE 1979 (segunda parte)








          Entrei na delegacia de polícia da cidade acompanhado pelo policial civil que me vigiou, na "cela" da kombi, e vi logo o amigo Givanilton, já detido, sentado ao lado do birou do delegado, com a pequena sala cheia de policiais civis e militares.  Cumprimentei Givanilton.  O Delegado de Palmares usava óculos escuros e outros policiais civis também.  Já era mais de meia-noite. 

          Um dos policiais me indicou uma cadeira vazia à frente do birou do Comissário de Polícia que, de pé, me perguntou se eu tinha máquina de escrever em casa. Confirmei e ele disse que precisava da minha máquina para uma averiguação.  Adiantei que procurassem o meu pai, na Praça da Luz, e informassem que eu estava pedindo a liberação da máquina de escrever. Alguns minutos depois um policial colocou a minha máquina de escrever no birou do delegado de Palmares.   

          Eu e Givanilton não fomos interrogados.  Pouco tempo depois nos colocaram em uma sala menor, com apenas dois policiais à porta.  Ficamos sentados em um banco de madeira, e Givanilton me adiantou logo que estava preocupado com Eleta, a mãe do seu filho e das suas filhas.  Talvez  já soubessem da sua prisão...  Eu pedi que ele tivesse calma, era só o que a gente podia fazer naquela hora : ter calma e esperar.  E Givanilton revelou mais preocupações : por que a gente estava sendo preso, o que aconteceria ali, e as torturas e os desaparecimentos que já estavam acontecendo de novo no Recife ? 

          Não tive nem tempo de pensar em Solange, no meu filho José Terra e no que iria nascer...  Dois policiais militares entraram na pequena sala e disseram que a gente tinha de ir, na kombi da delegacia de Palmares, para uma delegacia especial do Recife.  E um deles me informou : 

          - O seu irmão já foi liberado pelo hospital e vai ser levado também, junto com vocês, em um carro da Secretaria de Segurança.   


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Texto do ebook inédito MELHOR É VIVER  
(Pequenas Histórias Reais), de Juareiz Correya  

          

          
          

Comentários

  1. Fatídico 7 de dezembro, a notícia nos pegou como um pesadelo até então pensávamos que um dos nossos irmãos teria sido morto, veio o ??? Porque ? Truculência !!! Hoje vivos para contar essa história e viva a democracia num país sem igual , terra de ninguém e tão amada por alguns !!!

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    1. Valeu, Marinalda. Sua opinião enriquece esse pequeno e infeliz episódio.

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  2. mais um que choraminga com o regime militar por sofrer ^repressão^ por conta de atos terroristas...

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  3. Giovanni Iemini : Leia direito. Não estou choramingando sobre nada. Conto uma história que aconteceu. É um fato. Se você não tem respeito pela vida dos outros cuide apenas da sua.

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