PEQUENAS HISTÓRIAS REAIS : MAIS UMA "LENDA DE CASA"






     Durante todos os anos em que vivi na casa dos meus pais, em Palmares (PE), tinha certo o conhecimento de que os meus avós paternos se chamavam Simplício e Francisca.  Ele seria Simplício Francisco Correia e ela Francisca Regina Correia, visto que meu pai se chamava José Benedito Correia. No mês em que o meu pai faleceu, tia  Antonia, irmã dele, ficou lá em casa, na Praça da Luz, como quem já contava com o desfecho, acompanhando tudo.  Ele vivia praticamente imobilizado em uma cama há sete anos.  Já nem falava.  Não sei se ouvia a gente direito.  Mas reagia sempre diante de alguma coisa que fosse do seu desagrado...

     Certo dia, conversando na cozinha, pedi a tia Antonia que trouxesse de Porto Calvo (AL) algum documento dos meus avós, qualquer coisa relacionada com a origem da família.  Ela me prometeu trazer cópia do registro do casamento deles.  E assim fez.  Li, junto com ela, o documento, e fiquei estarrecido :  O nome do meu avô era Simpliciano (e não Simplício) Francisco do Nascimento e o da minha avó era Francisca Regina Duarte.

     - Onde foram buscar esse Correia da gente ?

     Tia Antonia contou :

     - A história é que os dois eram analfabetos.  Naquele tempo, pouca gente sabia ler.  Nem mesmo o pessoal que trabalhava nos cartórios...  Quando meu pai se casou com a minha mãe, ele estava trabalhando no Correio, era pintor de paredes, ganhava a vida trabalhando em construções, pintando casas...   Aí ele estava trabalhando no Correio, teve o primeiro filho, foi registrar, de quem era ? - De Simplício, disseram; que Simplício, de onde ?  do Correio, filho de Simplício do Correio, aí foi fácil, Correio, ninguém se chama Correio, Correia tá certo, é a mesma coisa, pegou, pronto, ficou o sobrenome, Correia.

     Ainda bem que o meu pai já não podia mais ouvir ou entender essa história...  E dias depois ele se encantou como José Benedito Correia sem saber que, na verdade, deveria se chamar José Benedito Duarte do Nascimento !  
 (Juareiz Correya) 


Comentários

  1. E assim muitos nomes se.transformaram.Mas o que fico me perguntando é: qual o grau de alfabetização do profissional do cartório? Sem dúvida, uma história deleciosa.

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  2. Muito interessante o que o amigo descreve.E isto era e é usual, atualmente;mas de uma maneira oficial,é mais difícil.E é mais uma contribuição para a geneologia.Parabéns!

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  3. Eu adoro essa história!
    Conto para várias pessoas e ninguém acredita 😂

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