PARA OS POETAS DO RECIFE
Dedicado às vidas
de Marconi Notaro e Marciano Lírio
"O Recife tem mais poetas
do que postes pra cachorro mijar",
poetizava Marconi Notaro,
como se a mesa do bar
fosse uma cátedra.
O poeta escreveu pouco
sobre a nossa república atlântica tupi-guarani
- mais poética que filosófica -,
que cantamos sem Música
e pensamos sem Grécias
e estudos metidos a grandezas sem Ser.
Em sua companhia, eu e Marciano Lírio
e Lea Tereza Lopes e Luíza Russo e Sônia Montenegro
bebemos mais do que comemos
e instituímos a Liberdade
nas mesas do Casarão 7 do Mustang do Savoy
de qualquer bar, à luz do dia,
como se fosse a hora
de invadir a Cidade
e salvá-la do Medo e da Decadência
que a Ditadura Militar estendia sobre o País
como uma noite de terror sem fim.
A Poesia nos irmanava
e alegrava os nossos corações
repartidos em versos
de guardanapos papéis rasgados
cópias xerográficas panfletos folhetos
que serviam para elevar as nossas vozes
como se tivéssemos platéia
uma legião de seguidores
palcos e teatros de cantores de qualquer coisa
e de dolarizados cachês.
A Cidade era pobre de jornais e revistas
e não tinha espaço nenhum
para quem escrevia e resistia desarmado
contra a Opressão fardada dos dias.
Vivíamos como o País vivia
- sem Ordem e sem Progresso -
e embora expulsassem os poetas
e os que acreditavam na Poesia
em toda a República sem Democracia e sem Povo,
resistíamos à Morte
da nossa geração silenciada
e os nossos versos inúteis e perdidos
proclamavam o nosso Direito à Vida.
(Recife / Boa Vista,
amanhecer do dia 18 de março/2015)
um poema belo, sensível, dolorido, resistente e lírico......
ResponderExcluirbelissíssimo.....