PEQUENAS HISTÓRIAS REAIS : "GERAÇÃO 69"
Digo sempre, meio levando para o deboche (e com a saudável irreverência dos palmarenses), que sou de uma "Geração 69" de escritores e artistas pernambucanos. Isto é dito quando alguém tenta me confundir como integrante da chamada Geração 65 de escritores pernambucanos, lançada, no Recife, pelo poeta, crítico e professor César Leal e batizada, no Diário de Pernambuco, pelo historiador Tadeu Rocha. Sou amigo e admirador de alguns desses escritores mas "nasci" depois e cheguei em outro tempo ao Recife.
É fato. Posso dizer que, em matéria de literatura, mais particularmente de criação poética, e, ao mesmo tempo, de consciência política e social, eu nasci em 1969, aos 17 anos de idade, em Palmares, minha cidade natal, na região Mata Sul de Pernambuco. Nasci e fui batizado logo : preso em 19 de setembro, exatamente no dia em que completei 18 anos de idade, fui trazido de Palmares, para o Recife, por policiais do Estado, para ficar detido no DOPS, pelo "perigosíssimo crime" de escrever alguns textos para um jornal-mural (O Olho) e participar de um grupo cultural responsável pelo jornal e que ensaiava também um projeto teatral.
Fiquei detido dois dias. Meus companheiros do grupo - o pintor e escritor Telles Junior, o fotógrafo Givanilton Mendes e a advogada e professora Elisete Alves - haviam sido presos antes de mim, durante quatro dias, e foram liberados com a minha chegada ao DOPS. Com esses companheiros e outros novos participantes, o grupo cultural criou um jornal de verdade - O Olho (8 páginas, formato standard, composto em linotipo e impresso na gráfica do jornal recifense Folha da Manhã, em tiragem de 1.000 exemplares). O primeiro e único número desse jornal foi produzido em novembro/dezembro de 1969 e circulou na cidade e na região em janeiro/1970.
Nesse primeiro e único número d' O Olho publiquei os meus primeiros versos : "Poema vago olhando a cidade". E o jornal anunciava um livro de minha autoria que seria publicado pelo grupo cultural : POEMAS SEM CORPO. Naturalmente escrito no ano de 1969. O jornal não prosseguiu, não circulou mais, o grupo se desfez, e eu viajei direto para São Paulo, com os originais datilografados desse livro debaixo do braço. Mas já estamos nos anos 70 e isso já é outra história.
(Recife, agosto de 2008)
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Do livro inédito PEQUENAS HISTÓRIAS REAIS
Achei MT interessante pois não tinha conhecimento dessa história apesar que Givanilton Mendes Barreto ser meu pai, mas como eu o perdi quanto adolescente só ouvi por cima não tinha conhecimento dos fatos como realmente foi, mas considero todos vcs verdadeiros guerreiros e me orgulho por isso. Parabéns!
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