PEQUENAS HISTÓRIAS DE ATLÂNTICA : "A GERAÇÃO DO SANGUE" (segunda parte)





     Quando se tornou um rapazote, José Genésio não quis mais acompanhar o pai à feira do Engenho  Bom Destino.  Nem se interessou pela promessa dele de um dia irem a Trombetas.  O que lhe interessava era cuidar mais das plantações do pai, pescar no riacho, melhorar a casa, que já era outra - tinha crescido com um quarto maior onde ficavam o pai e a mãe, e uma cozinha de verdade, tudo feito com o modelo igual ao de uma casa que José Genésio tinha visto em Bom Destino.  Ele também construíra, ao lado da casa, com a ajuda de Damião - um conhecido do sítio vizinho - um pequeno galpão para depositar as frutas do sítio do pai.  José Genésio tinha mesmo jeito para isso. 

     E o melhor de tudo : ele estava sempre junto da menininha que já era mais que uma menina, era uma mocinha, crescida como ele e que vivia com ele e não era  sua irmã.  Sabia disso.  E, ele soube disso melhor  quando o sangue falou, no dia em que o corpo dele agradou o corpo dela e o corpo dela agradou o dele.  Ela não sabia o que era aquilo, aquele aconchego morno e febril, ele também não, ele falava pouco e ela muito menos, mas souberam estabelecer comunicação e comunhão. 

     José Genésio e Dinda geraram Olindina. 




     Anibal conheceu Mãe Lica, sua avó, no sítio Abreu, onde ela morava com o seu avô, Pai Dedé, e os tios Manuel e Antonio.  Duas tias, Neném e Maria Josefa, irmãs da sua Mãe Carminha, moravam em Atlântica; outro tio, Zezé, já vivia em São Paulo com a irmã Honorina; a tia Isabel vivia perto do Recife, em Prazeres; a tia Dina vivia em Catende e a tia Mimi na Usina Serro Azul, distrito de Atlântica.  Quando a sua tia mais nova, Maria Josefa, se mudou para São Paulo, sua tia Neném resolveu que melhor seria levar Mãe Lica e Pai Dedé, já doente, para a casa dela em Atlântica.  A mãe de Anibal gostou, poderia estar por perto dos pais e ajudar a cuidar deles também, sobretudo do pai que tinha amputado a perna direita e estava em adiantado estado de cegueira.  Mãe Lica era uma mulher forte, de rosto cheio amorenado, cabelos negros lisos e grandes como uma índia. A mãe de Anibal achava que ela devia se parecer com a Vó Dinda, que era a bisavó dela, ou com Olindina, a sua verdadeira avó. 


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Segunda parte do conto "A Geração do Sangue",
do livro inédito PEQUENAS HISTÓRIAS DE ATLÂNTICA,
de Juareiz Correya.

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